O sabor inglês de Nova Lima: a Queca, patrimônio imaterial da cidade, preserva tradição familiar no período natalino
A receita é preparada durante o período que antecede às festas de final de ano, para abrilhantar a noite de Natal e também para começar o ano novo com o coração ainda mais doce; a Queca também movimenta a economia gerando renda para a comunidade local.
Frutas cristalizadas, frutas secas, nozes, cerejas e especiarias. Pitadas de afeto ao misturar a massa. Uma boa dose de amor enquanto o forno se encarrega de espalhar o cheirinho do Natal pela casa. E colheradas de uma prosa recheada de lembranças ao degustar o sabor inglês. Os ingredientes podem até ser comuns na época de final de ano, mas o modo de preparo dessa tradição novalimense é único e passado de geração em geração.
O aroma e o gostinho inesquecíveis da famosa Queca invadem as montanhas de Minas nas comemorações natalinas e levam a história e a tradição de Nova Lima para o mundo. Registrada como Patrimônio Imaterial da cidade em 2012 pelo Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Nova Lima, a iguaria remete ao sabor da riqueza, pois surgiu na época da exploração do ouro na cidade pelos ingleses, nos séculos XIX e XX.
A receita é preservada até hoje pelas famílias que perpetuam a tradição de prepará-la durante o período que antecede às festas de final de ano, para abrilhantar a noite de Natal e também para começar o ano novo com o coração ainda mais doce.
Mas, engana-se quem pensa que a Queca fica apenas escondida nas mesas novalimenses. Ela ganhou o mundo por meio do projeto “Viva a Queca” criado por um grupo de mulheres que não deixa a tradição morrer e oferecem o bolo como opção de presente em feiras, eventos, confraternizações e durante todo o ano. As encomendas de moradores e pessoas que visitam a cidade também são inúmeras nesta época.
A empresária Helena Bastos participa do projeto e afirma que no natal a procura pela Queca aumenta em 99%. “O Viva a Queca tem como objetivo fazer com que a receita seja feita durante todo o ano, pois as pessoas procuram”, ressalta. Ela explica que cada uma das participantes levou para o projeto dicas e ideias e que agora é feita uma única receita. “Cada família tem sua tradição, tem seu segredo na receita. Fomos aperfeiçoando a receita”, destaca.
Helena conhece a Queca desde pequena, quando a família era presenteada. Há três anos começou a fazer a receita e nunca mais parou. “O que atrai o cliente é o sabor da queca que é recheada com especiarias e tem um sabor de história. Quando as pessoas sabem de todo o histórico da Queca, ficam mais apaixonadas ainda. Por exemplo, antigamente as especiarias vinham de navio ou em cartas e demoravam meses para chegar ao Brasil”, ressalta.
Helena explica que a receita é feita no primeiro dia do advento e é servida no natal, além de ser presenteada. “As pessoas dão Queca de presente. A gente faz até um quilo de receita”, enfatiza.
A Queca ganhou ainda mais valor agregado quando artesãos da Associação Artes da Terra, se juntaram ao “Viva a Queca” e desenvolveram peças para compor a apresentação do “mimo”. São embalagens, pratos, guardanapos, cestos, cerâmicas, entre outros artigos, repletos de significado que tornam o presente uma verdadeira preciosidade, e mantém viva essa tradição tão amada e cultivada pelos moradores locais.
Para a presidente da Associação Artes da Terra, Claudia Rossi, a Queca por si só já é uma excelente opção para presentear amigos e familiares, tamanha sua história e beleza. “Entretanto, o artesanato que pode ser associado a ela faz com que o sabor e o gostinho do Natal possam ser lembrados durante todo o ano”, afirma.
Receita da Queca (Christmas cake)
Ingredientes:
Calda:
- ½ litro de água
- 2 xícaras de açúcar cristal rasas
- 1 colher de chá de bicarbonato de sódio
Modo de fazer
Queime o açúcar para fazer uma calda bem escura (se não ficar bem escura, o bolo esfarela). Deixe a calda esfriar e coloque o bicarbonato de sódio. Reserve. Coloque nesta calda, quando estiver fervendo, 2 cravos da índia, um pau de canela de aproximadamente 5cm, 2 folhas de louro e uma colher de sopa de erva-doce.
Frutas:
- 300 gramas de passas pretas sem caroço
- 300 gramas de passas brancas sem caroço
- 400 gramas de frutas cristalizadas, compradas inteiras: figo, cidra, laranja. Lavar as frutas antes de picar e remover o excesso de açúcar.
- 500 gramas de nozes picadas
- 200 gramas de cerejas em conserva que deverão ser picadas
- ½ copo de conhaque de boa qualidade.
Depois de tudo picado, coloque de molho no conhaque. O ideal é colocar na véspera.
Massa
- 1 kg de farinha de trigo
- 350g de açúcar refinado
- 500g de manteiga
- 1 colher de sopa de fermento em pó, bem cheia
- 1 colher de café de sal
- 2 nozes moscada raladas
- 4 gemas
- 8 ovos inteiros
- 4 cálices de conhaque
- 3 colheres de sopa de glicerina (opcional)
Como fazer:
Coloque em uma vasilha a farinha de trigo, o açúcar, a manteiga (não pode estar congelada), o sal, as nozes moscadas e a glicerina. Misture com as mãos até ficar parecendo uma farofa. Com uma colher de pau, junte os ovos inteiros, as gemas e misture bem. A seguir, adicione a calda queimada e o conhaque. Misture bem. Depois adicione as frutas até soltar bolhas (importante), adicione o fermento dissolvido em um pouco de água e misture bem.
Deixe a massa descansar por uma hora. Unte e polvilhe as formas com farinha de trigo. Assar em forno médio por cerca de uma hora e meia.
Essa receita rende seis bolos médios e um grande. A receita deve ser feita no início de dezembro, para ser consumida no natal.
Curiosidade: antigamente, a receita era feita no primeiro dia do advento.
Este post é uma contribuição Sabrina Beckler para o Guia BH Mulher
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